sexta-feira, 10 de maio de 2013

Uma visão paralela


     Essa é uma entrevista realizada a um ex- professor que embora tenha deixado o campo de atuação Docente, ama o Ensino e o profundo desejo de lecionar!

Este texto contém afirmações, algumas vezes com generalizações propositadamente exageradas, e não está fundamentada em nenhuma base científica ou estudo sistemático, refletindo tão somente uma opinião pessoal.

O modelo atual de ensino prioriza a instrução, o conhecimento prático que ajuda a se destacar no mundo profissional, a técnica, a repetição e produtividade. Um modelo educacional muito influenciado pela revolução industrial do século retrasado e institucionalizado no Brasil em meados do século passado. O foco era a formação de profissionais para preencher as necessidades da sociedade para cumprir funções sociais instituídas pela mesma. Infelizmente parece que o tempo somente aprimorou este conceito.

     Neste contexto, quando jovem, percebi que teria muito a colaborar com meus conhecimentos. Anos se passaram, sem nenhuma orientação, para que eu compreendesse o erro comum à maioria dos professores. Percebi a diferença entre educar e instruir. Porém, quanto mais eu refletia sobre este assunto, mais dúvidas surgiam.

Talvez não fosse errado passar informações na forma técnica, pois a formação básica de valores, moral e ética, deveria ser provida pela família.  Cabe aqui fazer ressalvas para separar e classificar, os professores que interagem com o aluno em seus diversos níveis de maturidade, que entendo que deveria mudar ao longo do tempo entre o nascimento e a morte.

    Fui professor em cursos com foco em alunos do ensino médio. Um dos questionamentos mais marcantes para mim era se um aluno com a formação recebida até então, teria a capacidade de decidir sua futura profissão fornecida pela universidade. Claro que a resposta me parece negativa, facilmente provada pelo alto nível de desistência nas universidades, e profissionais que atuam em áreas completamente distintas da sua formação acadêmica. A motivação para a decisão quase sempre me pareceu financeira, isto é, a profissão ou conhecimento que pudesse gerar mais renda.
     Meus questionamentos da juventude foram pouco a pouco sendo respondidos, porém, surgiram questionamentos mais difíceis, que me mostraram a necessidade de uma formação mais holística do professor. A importância da formação em filosofia e suas ramificações como a psicologia, e sociologia, além dos temas de especialização de cada professor e da pedagogia. Esta formação ajudaria o professor a atingir o grau máximo de sua profissão que é ajudar o aluno a entender claramente as pessoas e o contexto social que vive, e explorar seus potenciais inatos ou aprendidos para atingir sua plenitude.
     Claras mudanças estruturais da família e da influência da formação religiosa ou espiritual, afetada pela valorização excessiva da ciência, tecnologia e consumismo, algumas vezes, com o desmoronamento dos valores morais, traz como desafio adicional ao professor o de receber um aluno sem os fundamentos básicos para a formação do cidadão. Minha hipótese de que a família forneceria a educação moral e ética estava errada. Quer dizer, a terceirização da educação moral e ética à escola, e consequentemente ao professor, traz a este uma sobrecarga para a qual não está preparado, e mesmo que esteja preparado, não possui os poderes institucionalizados pela sociedade para assumir este trabalho. Este dilema é uma das forças que geram um círculo vicioso perverso onde todos perdem, e a sociedade, creio eu, já definiu quem deveria ser o responsável e culpado. Isto gera o clássico problema da responsabilidade e autoridade. Este cenário é especialmente contundente no ensino fundamental e infantil trazendo uma responsabilidade poucas vezes valorizada aos professores que atuam com o publico desta faixa etária.
     No Brasil, o estado assumiu a responsabilidade da educação infantil, tentando deixar o foco assistencialista de “cuidar”, colocando a educação infantil como parte integrante da constituição (E.C.A.) assumindo uma postura mais pedagógica.  Isto simplesmente facilitou aos pais assumir a postura de terceirizar a educação moral e ética.A questão é: como o estado pode assumir uma responsabilidade sem que os seus agentes (professores) estejam preparados e autorizados?
    Algumas distorções, geradas principalmente pela sociedade capitalista, que cria um ciclo de produção, consumo e soberba, que afetam a capacidade de uma família, ter tempo e condições financeiras para educar a criança, ou quando os têm, educam a criança somente visando à formação da mesma para fazer parte deste ciclo, realimentando tais distorções. No meio destes círculos viciosos está o professor, que perdeu, claramente, seus referenciais de função.  
     Em meio a teorias da boa prática pedagógica, e a falta de condições estruturais para exercer sua função, o professor vive o dilema de como agir. Claro que isto não justifica que, analisado pela lente da moral e da ética, o professor não tenha que ter um senso crítico constante para tentar transformar tal teoria em prática. Desta forma o professor tem uma função solitária e introspectiva altamente frustrante.
     Com este cenário nada promissor onde a educação se tornou um produto comercial, a função do professor atualmente se restringe a superficialidade de passar informação. Incentivado pela política do “tapar o sol com a peneira” onde a quantidade é valorizada em detrimento da qualidade, a própria formação do professor é afetada, exemplificando o dilema Aristotélico do “ovo ou a galinha”. Muitos motivos políticos escusos e egoístas existem para perpetuar este cenário, criando de novo um círculo vicioso. A tecnologia, também, tem afetado muito, criando uma confusão global entre o significado de ter informação e ter conhecimento. A transformação da informação em conhecimento depende somente do ser humano.
     Em meio a falta de consenso sobre o conceito de educação, o professor – peça chave deste paradigma – possui uma profissão desgastada e desvalorizada, tanto sob a ótica financeira como a social.
     Qualquer análise desta carreira deve passar necessariamente pela reformulação das hipóteses sociais e políticas consideradas verdadeiras de forma realista.
     Apesar de tudo isto, existem pessoas que com profundo altruísmo continuam a desejar ser um bom professor.  Trabalhar em um ambiente jovem, cheio de energia e esperança sempre renovam suas forças. Como professor, raros serão os dias em que não irá rir contagiado pela alegria da infância e juventude.

Claudio Nisiyama


Por: Débora Silva 


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